quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Comer, comer















Os problemas com a comida me perseguem desde que eu me entendo por gente. Não sei se é assim com todo mundo que tem distúrbio alimentar, mas comigo foi. Eis o meu relato. Deixava minha mãe e minha avó malucas na hora da comida porque eu simplesmente não comia. Minha mãe se queixava para o médico e ele perguntava se eu comia besteira, tipo McDonald. A resposta? Eu não comia nada mesmo. Eu não gostava de comer. Estar na mesa era um sofrimento porque eu tinha que ouvir todos os tipos de barganhas e ameaças para comer pelo menos metade do que estava no prato. "Só mais cinco colheradas!" "Se não comer, não vai ganhar uma coisa." "Se não comer, mamãe vai ficar triste." "Se não comer vai ficar doente!" E aí dividiam a comida no prato, me incentivando a comer só um dos lados. Até hoje eu tenho essa maldita mania de dividir a comida quando sinto a falta de apetite se apoderar de mim.
Cresci menos do que a maioria das pessoas. Fui, possivelmente, a todos os endocrinologistas do Rio de Janeiro. Me fartei de fazer exames de sangue, radiografias das mãos e ouvir sobre hipófise e outros hormônios. E sabe o que todos os médicos diziam quando viam meu corpo magrelo e eu subia na balança e lá estavam os 20 kg de sempre? "Essa garota é desnutrida." "Ela precisa comer." "Um danoninho vale por um bifinho." Etc etc etc.
Isso cansa.
Parei de crescer em 1,47 m de altura e, de verdade, nunca me incomodei com isso. Talvez como um protesto a toda essa chatice que me fizeram passar. Ouvi tantas críticas da família, não aguentava minha avó me mandando comer. Era uma tortura. Tudo na minha vida girava em torno de que "eu não comia." E, contraditoriamente, meus exames de sangue sempre foram perfeitos. Mas alguém notava isso?
Aí eu cresci, tomei um bendito remédio que me fez engordar 7,5 kg (não, não foi nenhum remédio para abrir o apetite, e eu já tomei todos possíveis também), e quase tive uma anorexia. Graças a Deus isso não foi para frente, essa minha paranóia para emagrecer. Mas também, cinco anos depois, graças a problemas de família, acredito eu, que contribuíram para elevar minha ansiedade, já problemática, para fora dos limites, eu emagreci 6 kg. Não tinha quem não me visse que não dissesse que eu estava com cara de doente. Minhas roupas ficaram enormes. Calças tamanho 34 que tinham que ser diminuídas. Calça tamanho 32 que eu vestia com outra calça por baixo. E, o pior de tudo: podia passar dias com uma refeição apenas no estômago. E só de colocar qualquer coisa na boca eu tinha ânsia de vômito.
Descobri que estava com anorexia no ano passado. Já recuperei 4 kg, graças a Deus, e não pareço mais doente. Mas a perseguição com a comida continua. Semanalmente tenho que ouvir meu psiquiatra me perguntar como está minha alimentação, o que eu estou comendo, como estou comendo. Tive que aguentar uma vigilância excruciante da minha alimentação da parte da minha família. De novo. De novo, de novo, me via com 7 anos de idade dividindo a comida no prato, sendo obrigada a comer, sendo ameaçada a ser internada, sendo ameaçada pelos ponteiros da balança, por cada 100 gramas que eu ganhava ou perdia, sendo prometida com presentes ou broncas intermináveis e... Ahhhhhh!
A perseguição continua. Ainda passo alguns dias sem comer mais que duas refeições e agora é minha consciência que briga comigo, mais do que minha família e meu médico. Aflição sempre quando subo à balança. Eu queria poder ter uma relação normal com a comida, mas acho que vai ser sempre, sempre assim, não é?
A balança estacionou nos 38,2 kg e eu continuo cortando a comida em pedacinhos, me obrigando a comer mais cinco colheradas. Isso é quase uma lavagem cerebral. Vou dizer, isso é difícil de aguentar.

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